Cordel do Fogo Encantado.


Visitando o blog CONSTRUVIVER, assisti o vídeo do Cordel do Fogo Encantado onde Lirinha apresenta um poema de João Cabral de Melo Neto. Aí lembrei do cordel ‘Jesus no Xadrez’ de Chico Pedrosa na voz de Lirinha. Vamos assistir? Aderaldo, esse é para você.

Jesus no Xadrez
Cordel do Fogo Encantado
Letra: Chico Pedrosa
No tempo em as estradas,
eram poucas no sertão,
tangerinos e boiadas,
cruzavam a região,
entre volante e cangaço,
quando a lei era do braço,
do jagunço pau mandado
do coronel invasor,
dava-se no interior,
esse caso inusitado.

Quando Palmeiras das Antas,
pertencia ao capitão
Justino Bento da Cruz
nunca faltou diversão,
vaquejada, cantoria,
procissão e romaria,
Sexta-Feira da paixão.

Na Quinta Feira maior,
dona Maria das Dores,
no salão paroquial
reunia os moradores
depois de uma preleção,
ao lado do capitão,
escalava a seleção
de atrizes e atores.

Todo ano era um Jesus,
um Caifaz e um Pilatos,
só não mudavam a cruz
o verdugo e os maltratos.
O Cristo daquele ano
foi o Quincas beija-flor,
Caifaz, foi Cipriano,
Pilatos foi Nicanor.
Duas cordas paralelas,
separavam a multidão
pra que pudesse entre elas
caminhar a procissão.

Quincas, conduzindo a cruz,
foi não foi, advertia,
o centurião perverso,
que com força lhe batia,
era pra bater "maneiro"
Bastião, não entendia,
devido a um grande pifão,
que tomou naquele dia,
do vinho que o capelão
guardava na sacristia.

Cristo dizia; ô rapaz,
vê se bate devagar,
já tô todo encalombado,
assim não vou agüentar,
ta com a gota pra doer
ou tu pára de bater
Jogo já essa cruz fora,
tô ficando aperreado,
vou morrer antes da hora
de ficar crucificado.

O pior é que o malvado,
fingia que não ouvia
e, além de bater com força,
ainda se divertia,
espiava pra Jesus,
fazia pouco e dizia:
Que Cristo frouxo é você?
que chora na procissão,
Jesus, pelo que se sabe,
não era mole assim não,
eu tô batendo com pena,
tu vai ver o que é bom,
na subida da ladeira,
da venda de Fenelon,
o couro vai ser dobrado,
até chegar no mercado,
a cuíca muda o tom.

Naquele momento ouviu-se
um grito na multidão,
era Quincas que, com raiva
sacudiu a cruz no chão
e partiu feito maluco
pra cima de Bastião.

Se travaram no tabefe,
pontapé e cabeçada,
Madalena levou queda,
Pilatos levou pancada,
deram um cacete em Caifaz
que até hoje não faz
nem sente gosto de nada.

Desmancharam a procissão,
o cacete foi pesado,
São Tomé levou um tranco
que ficou desacordado.
Acertaram um cocorote
na careca de Timóteo
que até hoje é azulado.

Até mesmo São José
que não é de confusão
na ancia de defender
seu filho de criação,
aproveitou a garapa
pra dar um monte de tapa
na cara do bom ladrão.

A briga só terminou
quando o doutor delegado
interviu e separou
cada "santo" pro seu lado,
desde que o mundo se fez
foi essa a primeira vez
que "Jesus" foi pro xadrez
mas, não foi crucificado.

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